Enquanto o investimento global em agritech e foodtech caiu 4% em 2024, os mercados em desenvolvimento nadaram contra a corrente: segundo o novo relatório da AgFunder , o volume investido nesses países disparou 63%, alcançando US$ 3,7 bilhões. Esta cifra representa quase um quarto de todo o capital global investido no setor — um feito notável diante do cenário de retração generalizada.

O levantamento, publicado em parceria com a FMO Ventures, Omnivore e BlueTree Technologies, destaca o crescimento em regiões como América Latina, Sudeste Asiático e África, com destaque absoluto para a Índia, que atraiu US$ 2,5 bilhões — mais da metade do total. Mesmo desconsiderando a megacaptação do eGrocer indiano Zepto, que sozinho arrecadou US$ 1,4 bilhão, os dados mostram forte tração em fintechs agrícolas e marketplaces digitais.

O Brasil aparece como segundo maior receptor de investimentos na América Latina, com US$ 224 milhões, apesar de uma queda de 32% em relação ao ano anterior. Startups como a Agrolend, que oferece crédito para pequenos e médios produtores, figuram entre os maiores aportes da região. Já o México cresceu impressionantes 250% e o Vietnã, 350%, revelando a emergência de novos polos de inovação agro.
Entre os destaques setoriais, soluções de AgFintech e marketplaces agrícolas lideraram as captações na categoria upstream, enquanto a infraestrutura digital para varejo e entregas expressas dominou o downstream. Notadamente, categorias como bioenergia e biomateriais cresceram 35% em mercados emergentes, apesar da queda de 50% globalmente — sinalizando prioridades locais mais alinhadas à sustentabilidade e à redução de perdas no campo.
A predominância de rodadas maiores em estágios avançados foi outra tendência observada: 2024 registrou aumento no tamanho médio das rodadas de séries seed e A, indicando uma maior maturidade e consolidação das startups nesses países. Segundo investidores ouvidos no relatório, como Megha Okhai (BII) e Sherief Kesseba (CRAF), o movimento reflete uma profissionalização crescente do ecossistema e o surgimento de fundos mais especializados, focados em impacto e escalabilidade local.

Apesar dos avanços, os especialistas alertam para os riscos: tensões geopolíticas, tarifas sobre insumos agrícolas e liquidez mais restrita podem ameaçar a continuidade do crescimento. Ainda assim, a diversificação geográfica e o foco em soluções específicas para contextos rurais dos países do Sul Global oferecem um contraponto resiliente ao ciclo de baixa global do venture capital.
O relatório também ressalta casos inspiradores como o da SAYeTECH , de Gana, que desenvolve maquinário agrícola com sensores inteligentes, e da Nile, startup sul-africana que conecta agricultores diretamente a compradores via plataforma digital. Essas iniciativas demonstram como os desafios locais — da mecanização à comercialização — estão sendo superados com inovação de base tecnológica.
Em um mundo que busca maior segurança alimentar, sustentabilidade e inclusão produtiva, os mercados emergentes estão se posicionando como protagonistas da próxima revolução agrícola. A julgar pelos números de 2024, eles não só resistem à crise — como estão prontos para liderar a retomada.
Confira o relatório completo aqui: https://agfunder.com/research/developing-markets-agrifoodtech-investment-report-2025/
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Juh Chini
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Juliana Chini é Economista pela Esalq-USP e Mestre em Gestão Internacional pela ESPM, com mais de 15 anos de experiência impulsionando a inovação no setor de alimentos e agronegócios. Trabalhou em corporações, startups e é fundadora do Blog da Carne e da Newsletter Sementis. Como Sócia e Head da Rural Insights, conecta startups, corporações, produtores e o ecossistema de inovação da Rural, além de produzir e disseminar conhecimento e tendências no agro. Mulher, sonhadora, trabalha pelo agro mais inovador, inclusivo e sustentável.