Montar uma startup já é desafiador. Fazer isso no agronegócio — setor de margens apertadas, ciclos longos e adoção cautelosa — exige ainda mais do empreendedor. E um dos pilares centrais para o sucesso de qualquer AgTech é a formação de um time forte, alinhado à cultura e à realidade do campo. Afinal, sem gente boa, comprometida e com a botina na terra (ainda que de forma digital), nenhuma ideia escala.
Mas como encontrar e reter talentos em um mercado competitivo, onde a tecnologia precisa andar lado a lado com o conhecimento técnico do agro? Como desenvolver uma cultura organizacional que combine inovação e praticidade, com times que muitas vezes atuam remotamente e enfrentam a complexidade da porteira para dentro?
Já abordamos sobre o conceito de startup, modelos de negócios, validação de ideias investimentos em agtechs e hoje vamos falar sobre: pessoas!
Hiring certo: mais do que currículo, é mentalidade
Em uma startup, especialmente no início, cada contratação pesa. Por isso, o processo de hiring deve considerar não apenas habilidades técnicas, mas principalmente o fit com a missão, a velocidade e o propósito da empresa. No agro, isso é ainda mais sensível: o time precisa entender o campo, respeitar o tempo do produtor e saber traduzir tecnologia em valor percebido.
Perfis híbridos — profissionais com experiência em tecnologia e vivência no agronegócio — são difíceis de serem encontrados e extremamente valiosos. Enquanto isso, empreendedores têm apostado em formações internas, parcerias com universidades e aceleração de talentos de base técnica. Outro fator decisivo é o mindset de aprendizado contínuo. Em um setor que muda rápido, a adaptabilidade é mais importante que a bagagem.
A cultura que une: agilidade com raízes e propósito
Criar uma cultura de startup no agro vai muito além de usar metodologias ágeis ou ferramentas digitais. É sobre construir confiança em um time que pode estar disperso geograficamente, mas precisa estar unido por valores e metas muito claras. Startups de sucesso no setor agro têm apostado em rituais simples: check-ins semanais, reuniões de aprendizado, trocas com o campo e contato direto com o usuário final.
Outro ponto essencial é a transparência nas decisões e nas métricas de desempenho. Como os ciclos são mais longos no agro, é preciso manter o time motivado mesmo quando os resultados levam tempo a aparecer. Incentivos não precisam ser apenas financeiros — envolver a equipe nas conquistas com clientes, nas visitas ao campo e nas decisões estratégicas é o que cria pertencimento.
Por fim, o que não pode faltar:
- Clareza de propósito (por que estamos fazendo isso?)
- Autonomia com responsabilidade (confiança para testar, mas com foco em resultado)
- Escuta ativa (o time é diverso, e isso é força, não ruído)
- Contato com o cliente (todos precisam entender a dor do campo)
Gente certa, cultura certa: o diferencial que não se copia
Tecnologia pode ser replicada. Modelo de negócios pode ser ajustado. Mas gente alinhada e cultura viva são diferenciais inimitáveis. Startups do agro que querem crescer de forma sustentável precisam tratar cultura como ativo estratégico, e não como item decorativo. E isso começa no primeiro contrato, na primeira reunião e, principalmente, na forma como os líderes inspiram e conectam.
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Juh Chini
administrator
Juliana Chini é Economista pela Esalq-USP e Mestre em Gestão Internacional pela ESPM, com mais de 15 anos de experiência impulsionando a inovação no setor de alimentos e agronegócios. Trabalhou em corporações, startups e é fundadora do Blog da Carne e da Newsletter Sementis. Como Sócia e Head da Rural Insights, conecta startups, corporações, produtores e o ecossistema de inovação da Rural, além de produzir e disseminar conhecimento e tendências no agro. Mulher, sonhadora, trabalha pelo agro mais inovador, inclusivo e sustentável.